A busca pela beleza está saindo do mundo de homens e
mulheres e invadindo, precocemente, o universo infantil
A vaidade tem sido uma obstinação tão grande entre homens e
mulheres que o mundo das crianças tem sido verazmente invadido pela compulsão
da beleza. Crianças tem se espelhado nos pais, irmãos ou tios e invadido o mundo dos batons, esmaltes, gel para cabelos, brincos e perfumes precocemente.
Um exemplo deste exagero é Maria Beatriz Laranjeiras de apenas
6 anos. A pequena bailarina acorda uma hora antes do horário todas as manhãs
para ter tempo de pentear os cabelos, escolher a combinação de roupa para
escola, as bijuterias e fazer a maquiagem.
Para a mãe Claudia Laranjeiras não existe motivos para preocupação.
Segundo ela, a vaidade é uma qualidade que todas as mulheres devem ter. “A bia
desde novinha me acompanhou em compras e salões de beleza. Acho natural que
ela, mesmo ainda sendo uma criança, queira estar bonita e chamar atenção. Não
acho que incentivar o cuidado com a beleza possa trazer algum problema para
minha filha”, explica.
O grande problema de todo esse cuidado iniciado ainda na
primeira infância é que o exagero pelo cuidado com a aparência pode tornar-se
um transtorno psicológico ligado à compulsão por compras ou trazer problemas de
saúde como alergias dermatológicas.
Segundo o dermatologista Douglas Gomez, existem muitos
pontos que devem ser analisados com cautela pelos pais, principalmente as mães,
ao incentivar o uso de produtos de beleza em crianças. Esmaltes, tintura para
os cabelos e até maquiagem foram elaborados para o uso em adultos e o contato
químico em dosagens elevadas para as crianças pode ser prejudicial.
“As chamadas dermatites de contato são mais frequentes do
que se pode imaginar, a pele das crianças é muito mais sensível e tem mais
chance de desenvolver alergias. Elas podem aparecer nos olhos, nos dedos com
escamações da pele e até mesmo nos lábios com ressecamentos que podem gerar
feridas. O correto é que se prolongue o máximo possível o início do uso desses
produtos”, avalia o doutor.
Com o aumento do uso de produtos nas crianças algumas
empresas renomadas no mercado Brasileiro têm investido em mercadorias
específicas para o público infantil. Maquiagens, produtos para cabelo como gel
e esmaltes, todos feitos à base de água, podem ser uma opção mais segura para os
pequenos que não abrem mão dos cosméticos.
A psicóloga Ana Flávia Coutinho, 37 anos, explica que o
exagero na infância pode causar transtornos que prejudiquem o controle de
determinadas questões na fase adulta:
“Quando temos um quadro de exagero é muito provável que se
desencadeie um distúrbio no futuro. A dificuldade para o controle das finanças,
o consumo exagerado, a baixa auto-estima e até mesmo o desenvolvimento de
doenças como bulimia e anorexia podem ser uma consequência da infância. O mais
importante de tudo é que exista um diálogo entre país e filhos para mostrar à
criança que tudo na vida tem o seu tempo certo. A função dos pais é além de
educar fazer a com que a criança entenda a importância de não pular as fases”.
O modelo de “espelho” que se tem na infância são os pais e
nada mais natural que os filhos queiram ser igual. Usar o salto alto da mãe, o
barbeador do pai ou a maquiagem da irmã mais velha são brincadeiras saudáveis
para o desenvolvimento, mas devem ser acompanhadas de perto pelos responsáveis.
“O melhor para que a criança não sofra no futuro é que as brincadeiras sejam
controladas com responsabilidade. Permita que se fantasiem e façam desfiles,
mas tenha a responsabilidade de deixar claro que é apenas uma brincadeira. Na
hora de sair para passear, que seja com roupas e acessórios elaborados
exclusivamente para eles”, explica a psicóloga.